Alexandre Louis Leloir — Jacob Wrestling with the Angel 1865, oil on canvas.

A Humilhação de Jacó

UMP IPSBC
5 min readMay 14, 2021

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Levantou-se naquela mesma noite, tomou suas duas mulheres, suas duas servas e seus onze filhos e transpôs o vau de Jaboque. Tomou-os e fê-los passar o ribeiro; fez passar tudo o que lhe pertencia, ficando ele só; e lutava com ele um homem, até ao romper do dia. Vendo este que não podia com ele, tocou-lhe na articulação da coxa; deslocou-se a junta da coxa de Jacó, na luta com o homem. Disse este: Deixa-me ir, pois já rompeu o dia. Respondeu Jacó: Não te deixarei ir se me não abençoares. Perguntou-lhe, pois: Como te chamas? Ele respondeu: Jacó. Então, disse: Já não te chamarás Jacó, e sim Israel, pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste. Tornou Jacó: Dize, rogo-te, como te chamas? Respondeu ele: Por que perguntas pelo meu nome? E o abençoou ali. Àquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus face a face, e a minha vida foi salva. Nasceu-lhe o sol, quando ele atravessava Peniel e manquejava de uma coxa. Por isso, os filhos de Israel não comem, até hoje, o nervo do quadril, na articulação da coxa, porque o homem tocou a articulação da coxa de Jacó no nervo do quadril. Gênesis 32:22–32

Contexto da Passagem

Esse trecho do livro descreve a luta entre Jacó e um homem misterioso. Jacó não esperava por isso, pois no contexto do capítulo vemos que ele estava a poucos momentos de encontrar seu irmão, Esaú, que não via há muitos anos, devido a desentendimentos que tiveram.

Esaú saiu ao seu encontro com 400 homens. Isso colocou medo no coração de Jacó, que sabia o potencial conflito vindo em sua direção. Por isso, ele orou ao Senhor:

E orou Jacó: Deus de meu pai Abraão e Deus de meu pai Isaque, ó Senhor, que me disseste: Torna à tua terra e à tua parentela, e te farei bem; sou indigno de todas as misericórdias e de toda a fidelidade que tens usado para com teu servo; pois com apenas o meu cajado atravessei este Jordão; já agora sou dois bandos. Livra-me das mãos de meu irmão Esaú, porque eu o temo, para que não venha ele matar-me e as mães com os filhos. E disseste: Certamente eu te farei bem e dar-te-ei a descendência como a areia do mar, que, pela multidão, não se pode contar. Gênesis 32:9–12

E também separou um imenso presente ao seu irmão:

E, tendo passado ali aquela noite, separou do que tinha um presente para seu irmão Esaú: duzentas cabras e vinte bodes; duzentas ovelhas e vinte carneiros; trinta camelas de leite com suas crias, quarenta vacas e dez touros; vinte jumentas e dez jumentinhos. Gênesis 32:13–15

Logo em seguida, ele fez sua família atravessar um ribeiro. Depois de tudo isso, ele estava sozinho e encontra um homem misterioso no meio da noite.

O maior momento da vida de Jacó

Muitos podem pensar que a vida de Jacó foi abençoada por Deus, e de certa maneira podemos ver que sim, ele foi guardado por Ele. Mas Deus nunca aceitou as ações de Jacó, isso porque ele trapaceava, enganava e roubava os outros, podemos ver isso com o direito de primogenitura de seu irmão.

Esta passagem, entretanto, mostra o contrário. Aqui vemos a origem do nome de Israel, um momento histórico na vida do povo hebreu.

Eles estavam no Vau de Jaboque, que significa “vazio”, no meio da noite, ele e mais um homem. Não há muitos detalhes sobre essa luta, nem mesmo muitas explicações do porquê ela começou.

Jacó, que se preparava para uma luta com seu irmão, agora se vê lutando, no meio da noite. O simbolismo aqui é impressionante: eles estavam num lugar que significa “vazio”, Jacó é aquele que “agarra calcanhares” e na luta vemos que ao ferir Jacó, este se vê sem opção, totalmente desesperado, ainda assim, como se agarrado numa esperança, implora por uma benção.

Com sua coxa deslocada após o “toque” do homem, Jacó reconhece o poder sobrenatural dele, talvez ele tenha entendido que seja uma teofania de Deus.

A humilhação

Aquele que será conhecido por se disfarçar e enganar:

Jacó chegou-se a Isaque, seu pai, que o apalpou e disse: A voz é de Jacó, porém as mãos são de Esaú. E não o reconheceu, porque as mãos, com efeito, estavam peludas como as de seu irmão Esaú. E o abençoou. Gênesis 27:22,23

E por mentir:

Disse Esaú: Não é com razão que se chama ele Jacó? Pois já duas vezes me enganou: tirou-me o direito de primogenitura e agora usurpa a bênção que era minha. Disse ainda: Não reservaste, pois, bênção nenhuma para mim? Gênesis 27:36

Agora se vê com uma pergunta que coloca em sua vista tudo aquilo que ele representava:

Perguntou-lhe, pois: Como te chamas? Gênesis 32:27

Jacó sabia o significado do seu nome, ele sabia do seu passado, e com essa pergunta ele tem a oportunidade de assumir sua identidade e seus erros, por isso ele responde:

Ele respondeu: Jacó. Gênesis 32:27

Jacó, o usurpador, o enganador, o mentiroso, aquele que agarra no calcanhar. Como resultado do seu encontro com Deus, este muda seu nome, porque aquele que seria conhecido como pai do povo de Deus não pode ter uma identidade suja, ele precisa de uma nova, limpa, que mostre a glória daquele que é Senhor do Senhores:

Então, disse: Já não te chamarás Jacó, e sim Israel, pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste. Gênesis 32:28

Aqui podemos ver um simbolismo claro com as nossas vidas. Podemos lutar com Deus, por tempos e tempos, mas o seu toque milagroso, é capaz de nos humilhar, e nos mostrar nossa real identidade e, acima de tudo, sua graça pode nos limpar, nos dar uma nova identidade.

A mudança de vida

Com essa mudança de nome, notamos algumas coisas. Primeiro: Jacó não ganhou a luta como foi severamente machucado por toda vida, mas ele recebeu algo que o deixou melhor que antes: uma bênção de Deus. Segundo: ele agora não precisa mais ter medo de seu irmão, porque a benção de Deus está sobre ele. Terceiro: agora, o nome novo deve descrever seu novo caráter também. E por último: o seu nome será herdado por uma nação, que podemos ver que até hoje “luta” contra Deus, demonstrando a humilhação humana e a necessidade da bênção divina.

Outro ponto interessante, é que Jacó dá seu nome, sua identidade para Deus. Entretanto, o contrário não acontece, porque Deus não precisa de bênçãos humanas, Ele não nos deve nada, não temos poder sobre ele. Por isso, Jacó batiza aquele lugar de Peniel, “o rosto de Deus”.

Aplicações

Depois da luta, vemos que Jacó saiu mancando do local, e se tornou costume não comer o nervo da coxa do animal, isso é um sinal de reconhecimento da força de Deus sobre a história do povo.

Mas o que podemos tirar dessa passagem é que, apesar de lutarmos com Deus, seu toque gracioso é capaz de nos regenerar, nos dando uma nova vida, uma vida sem temores, com uma identidade que mostra a glória do nosso Deus.

Amém.

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